A logística em tempo real (LTR) pode ser um dos maiores desafios dentre todas as mudanças que a transformação digital tem promovido nos processos logísticos e de armazenamento das companhias.
A LTR, trata-se de um conjunto de tecnologias que permite um nível de automação tão elevado que, no futuro, talvez seja possível simplesmente acabar com os complexos estoques em galpões e centros de distribuição.
Por enquanto, o que a logística em tempo real de fato promove é a redução significativa dos estoques das empresas de venda complexa.
Ela conecta de forma inteligente toda a cadeia, desde a produção até a venda, dando visibilidade suficiente para que os gestores planejem o abastecimento de acordo com tendências de consumo, reduzindo ruptura e itens ociosos.
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“O conhecimento apoia a possibilidade de ter estoques somente do que se vende, permitindo abastecer rapidamente usando hubs e distribuidores que tragam a mercadoria mais para perto de onde a venda acontece”, explica Elaine Barros, especialista da Gera. “A base da logística em tempo real é o nível de conhecimento que tenho da operação.”
Mas isso exige uma quantidade enorme de dados, incluindo dos compradores e da operação, histórico de vendas etc.
Tecnologia e gargalos
Dados da cadeia reunidos para análises completas da realidade do negócio permitem prever com mais precisão quantos itens serão vendidos em determinado período no tempo.
Esse tipo de análise seria impossível alguns anos atrás, quando o máximo de previsibilidade em logística era obtida por meio de estatística “muito rudimentar”, pondera a especialista.
Estoques grandes são um problema para qualquer empresa que comercialize mercadorias físicas. Historicamente, as companhias tentam reduzir itens em barracões, seja pela dificuldade de gerenciar prazos de validade, por exemplo, ou pelo alto custo do maquinário, mão de obra, energia, segurança e aluguéis, entre tantos itens.
Sistemas de gestão que unifiquem os dados de vendas e vendedores e que empreguem inteligência artificial na análise, permitirão acelerar o processo até o ponto do tempo real.
Eles podem fazer a gestão da venda desde o momento em que o consumidor ou revendedor pesquisa sobre determinado produto até o momento da separação no estoque e da entrega.
“Essa forma holística de trabalhar, essa integração dos módulos em um mesmo arcabouço, ajuda a olhar para os pedidos sendo gerados agora e formular previsões”, explica Elaine.
Este cenário é vantajoso também para a indústria, que poderia produzir com mais eficácia e de acordo com a demanda dos consumidores, com ganhos inclusive do ponto de vista ambiental – só se consomem os insumos realmente necessários.
Outra grande utopia neste cenário talvez seja a indústria que só produz sob demanda: manufatura hoje o que foi comprado ontem e que será entregue amanhã.
Ganhos da Logística em Tempo Real
Na prática, as empresas – inclusive na venda direta – são capazes de separar itens no estoque no mesmo dia em que foram vendidos.
Segundo Elaine, muitos clientes da Gera – que adotam o software de gestão comercial da empresa, a let –, são capazes de, na prática, separar um item no estoque no mesmo dia em que foi vendido.
Para a especialista, quem lidera esse processo no Brasil são os varejistas on-line, os e-commerces.
“Em 2025, as cargas devem ser entregues nas grandes capitais no mesmo dia. Isso em países em desenvolvimento”, prevê. “Philip Kotler já dizia que as empresas inteligentes teriam menos estoque. Não tínhamos ferramentas para isso, mas hoje há um conjunto delas que ainda avançará muito”, diz Elaine.
Mas o país ainda sofre com a falta de infraestrutura necessária para tornar a logística de fato mais eficiente. Falta transporte viário, ferroviário, hidroviário e aeroviário.
Questões sociais – como roubos de carga e inacessibilidade de certas partes do território, mesmo em grandes cidades – também são problemas difíceis de vencer só com tecnologia.